• Obesidade abdominal e consumo alimentar em portadores de HIV/Aids Original Articles

    Jaime, Patrícia Constante; Florindo, Alex Antonio; Latorre, Maria do Rosário Dias de Oliveira; Segurado, Aluísio Augusto Cotrim

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Avaliar a associação entre consumo alimentar e presença de obesidade abdominal em indivíduos infectados pelo HIV/Aids, em uso de terapia antiretroviral de alta potência. MÉTODOS: Trata-se de estudo transversal envolvendo 223 indivíduos adultos, realizado no município de São Paulo, em 2002. A população de estudo foi classificada de acordo com a obesidade abdominal, definida pela razão das circunferências da cintura e quadril >0,95 para os homens e >0,85 para mulheres. As variáveis dietéticas estudadas foram consumo de energia (calorias e calorias/quilo de peso corporal), macronutrientes (em gramas e % da energia ingerida), fibra total (gramas) e consumo de frutas, verduras e legumes (gramas). Potenciais fatores de confusão examinados foram sexo, raça, idade, escolaridade, renda, índice de massa corporal, nível de atividade física, tabagismo, contagem de linfócitos T CD4+ e tempo de uso de inibidor de protease. Estimou-se modelo de regressão logística para avaliar a relação entre obesidade abdominal e consumo alimentar. RESULTADOS: A prevalência de obesidade abdominal foi de 45,7% e esteve associada ao maior consumo de lipídeos: para cada aumento de 10 g de lipídio na dieta a chance aumentou 1,28 vezes. O consumo de carboidratos mostrou-se negativamente associado (OR=0,93) com a presença de obesidade abdominal após ajuste pelas variáveis de controle. CONCLUSÕES: Os resultados sugerem que a quantidade de carboidratos e lipídeos na dieta, independente do consumo energético, pode modificar a chance de desenvolver obesidade abdominal na população estudada. Intervenções nutricionais podem ser benéficas na prevenção de obesidade abdominal entre pacientes vivendo com HIV/Aids.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess the association between dietary intake and central obesity among people living with HIV/AIDS and receiving highly active antiretroviral therapy. METHODS: A cross-sectional study was conducted involving 223 adult individuals in the city of São Paulo city in 2002. The study population was classified according to central obesity, defined as waist-to-hip ratio >0.95 for men and >0.85 for women. The dietary variables studied were energy consumption (in calories and calories/kilo of body weight), macronutrients (in grams and % of energy intake), total fiber (grams) and fruit and vegetables intake (grams). The potential confounders examined were sex, skin color, age, schooling, income, body mass index, physical activity, smoking habits, peripheral CD4+ T lymphocyte count and length of protease inhibitor use. The multiple logistic regression model was performed in order to evaluate the association between central obesity and dietary intake. RESULTS: The prevalence of central obesity was 45.7% and it was associated with greater consumption of lipids: for every increase of 10g of lipid intake the odds of central obesity increased 1.28 times. Carbohydrate consumption showed negative association (OR=0.93) with central obesity after adjustment for control variables. CONCLUSIONS: The results suggest that the amount of carbohydrates and lipids in the diet, regardless of total energy intake, may modify the chance of developing central obesity in the studied population. Nutritional interventions may be beneficial for preventing central obesity among HIV/AIDS patients.
  • Ausência de associação entre indicadores de anemia ao nascimento e crescimento de prematuros Original Articles

    Sichieri, Rosely; Fonseca, Vania Matos; Hoffman, Daniel; Trugo, Nadia Maria F; Moura, Aníbal Sanchez

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Avaliar a associação entre indicadores de anemia no nascimento e o crescimento de prematuros. MÉTODOS: Crianças prematuras (26-36 semanas de idade gestacional) (n=95), nascidas de julho de 2000 a maio de 2001, em hospital público do Rio de Janeiro, foram seguidas por seis meses, corrigidos pela idade gestacional. Foram obtidos em 82 mães e 78 crianças os indicadores de anemia: hemoglobina, hematócrito, volume corpuscular médio e ferro plasmático. Os prematuros receberam suplemento de ferro (2 mg/kg/dia) durante o seguimento. Análises de regressão linear multivariadas, com medidas repetidas, avaliaram os fatores associados ao crescimento linear. RESULTADOS: O crescimento dos prematuros foi mais acentuado até as 40 semanas de idade gestacional, com aumento de aproximadamente 1,0cm/semana. Após essa fase, o crescimento foi de 0,75 cm/semana. Na análise multivariada o crescimento associou-se positivamente com o peso ao nascer (0,4 cm/100 g de peso ao nascer; p<0,001) e negativamente com a idade gestacional (-0,5 cm/semana; p<0,001). Não se observou associação entre os indicadores de anemia, tanto da mãe quanto das crianças (p>0,60 para todos indicadores) e o crescimento. Somente duas crianças apresentavam anemia no nascimento, enquanto 43,9% das mães apresentavam anemia (hemoglobina<11 g/dl). Os indicadores de anemia da mãe e da criança no nascimento também não apresentaram correlação importante (r<0,15; p>0,20). CONCLUSÕES: A anemia materna não se associou com a anemia dos prematuros no nascimento e os indicadores de anemia das mães e das crianças não influenciaram o crescimento das crianças nascidas prematuras.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess the association between iron status at birth and growth of preterm infants. METHODS: Ninety-five premature babies (26 to 36 weeks of gestational age) born from July 2000 to May 2001 in a public hospital in Rio de Janeiro, Southeastern Brazil, were followed up for six months, corrected by gestational age. Iron measurements at birth were available for 82 mothers and 78 children: hemoglobin, hematocrit, mean corpuscular volume and plasma iron. All children received free doses of iron supplement (2 mg/kg/day) during the follow-up period and up to two years of age. Multivariate linear regression analyses with repeated measurements were performed to assess factors associated to linear growth. RESULTS: Growth was more pronounced up to 40 weeks of gestational age, increasing about 1.0 cm/week and then slowing down to 0.75 cm/week. The multivariate analysis showed growth was positively associated with birth weight (0.4 cm/100 g; p<0.001) and negatively associated with gestational age at birth (-0.5 cm/week; p<0.001). There was no association between cord iron and mother iron measurements and growth (p>0.60 for all measures). Only two children had anemia at birth, whereas 43.9% of mothers were anemic (hemoglobin <11 g/dl). Also, there was no correlation between anemia indicators of mothers and children at birth (r<0.15; p>0.20). CONCLUSIONS: Maternal anemia was not associated with anemia in preterm infants and iron status of mothers and children at birth was not associated with short-term growth of preterm infants.
  • Quais fatores podem explicar o paradoxo do baixo peso ao nascer? Original Articles

    Silva, Antônio Augusto Moura da; Bettiol, Heloisa; Barbieri, Marco Antonio; Brito, Luiz Gustavo Oliveira; Pereira, Márcio Mendes; Aragão, Vânia Maria Farias de; Ribeiro, Valdinar Sousa

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: O baixo peso ao nascer é incomum em recém-nascidos de maior nível socioeconômico. Contudo, no Brasil, a taxa de baixo peso ao nascer foi maior em cidade mais desenvolvida do que em município menos desenvolvido. O objetivo do estudo foi buscar razões para explicar este paradoxo. MÉTODOS: O estudo foi realizado em Ribeirão Preto (SP) e em São Luís (MA), cujas taxas de baixo peso ao nascer eram 10,7% e 7,6%, respectivamente. Foram analisados dados de duas coortes de nascimentos: 2.839 recém-nascidos em Ribeirão Preto em 1994 e 2.439 em São Luís em 1997/98. Foi realizada análise de regressão logística múltipla, ajustada para efeito de confusão. RESULTADOS: Os fatores de risco associados em São Luís foram primiparidade, idade materna menor que 18 anos e tabagismo materno. Em Ribeirão Preto, os fatores de risco foram: renda familiar entre um e três salários-mínimos, idade materna menor que 18 e igual ou maior que 35 anos, tabagismo materno e parto cesáreo. Em modelo conjunto incluindo ambas as coortes, Ribeirão Preto apresentou risco 45% maior para em relação a São Luís. Quando ajustado para tabagismo materno, o excesso de risco em Ribeirão Preto, reduziu-se em 49%, mas o intervalo de confiança esteve marginalmente significante. Diferenças nas taxas de cesárea entre as duas cidades contribuíram para explicar uma porção adicional desse paradoxo. CONCLUSÕES: O tabagismo materno foi o fator de risco mais importante capaz de explicar a diferença no baixo peso ao nascer entre as duas cidades. Os outros fatores pouco contribuíram para explicar a diferença nas taxas de baixo peso ao nascer.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: Low birth weight children are unusual among well-off families. However, in Brazil, low birth weight rate was higher in a more developed city than in a less developed one. The study objective was to find out the reasons to explain this paradox. METHODS: A study was carried out in two municipalities, Ribeirão Preto (Southeastern Brazil) and São Luís (Northeastern Brazil), which low birth weight rates were 10.7% and 7.6% respectively. Data from two birth cohorts were analyzed: 2,839 newborns in Ribeirão Preto in 1994 and 2,439 births in São Luís in 1997-1998. Multiple logistic regression analysis was performed, adjusted for confounders. RESULTS: Low birth weight risk factors in São Luís were primiparity, maternal smoking and maternal age less than 18 years. In Ribeirão Preto, the associated variables were family income between one and three minimum wages, maternal age less than 18 and equal to or more than 35 years, maternal smoking and cesarean section. In a combined model including both cohorts, Ribeirão Preto presented a 45% higher risk of low birth weight than São Luís. When adjusted for maternal smoking habit, the excess risk for low birth weight in Ribeirão Preto compared to São Luís was reduced by 49%, but the confidence interval was marginally significant. Differences in cesarean section rates between both cities contributed to partially explain the paradox. CONCLUSIONS: Maternal smoking was the most important risk factor for explaining the difference in low birth weight between both cities. The other factors contributed little to explain the difference in low birth weight rates.
  • Efeitos da poluição do ar nas doenças cardiovasculares: estruturas de defasagem Original Articles

    Martins, Lourdes Conceição; Pereira, Luiz A A; Lin, Chin A; Santos, Ubiratan P; Prioli, Gildeoni; Luiz, Olinda do Carmo; Saldiva, Paulo H N; Braga, Alfésio Luís Ferreira

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Investigar a estrutura de defasagem entre exposição à poluição do ar e internações hospitalares por doenças cardiovasculares em idosos, separada por gênero. MÉTODOS: Os dados de saúde de pessoas com mais de 64 anos de idade foram estratificados por gênero, na cidade de São Paulo, entre 1996 e 2001. Os níveis diários de poluentes do ar (CO, PM10, O3, NO2, SO2) e os dados de temperatura mínima e umidade relativa do ar foram também foram analisados. Foram utilizados modelos restritos de distribuição polinomial em modelos aditivos generalizados de regressão de Poisson para estimar os efeitos dos poluentes no dia da exposição e até 20 dias após, controlando-se para sazonalidades de longa e curta durações, feriados e fatores meteorológicos. RESULTADOS: Variações interquartis de PM10 (26,21 mig/m³) e SO2 (10,73 mig/m³) foram associados com aumentos de 3,17% (IC 95%: 2,09-4,25) nas admissões por insuficiência cardíaca congestiva e de 0,89% (IC 95%: 0,18-1,61) para admissões por todas as doenças cardiovasculares no dia da exposição, respectivamente. Os efeitos foram predominantemente agudos e maiores para o gênero feminino. Além disso, foi observado efeito colheita. CONCLUSÕES: Os achados mostraram que as doenças cardiovasculares em São Paulo são fortemente afetadas pela poluição do ar.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess the lag structure between air pollution exposure and elderly cardiovascular diseases hospital admissions, by gender. METHODS: Health data of people aged 64 years or older was stratified by gender in São Paulo city, Southeastern Brazil, from 1996 to 2001. Daily levels of air pollutants (CO, PM10, O3, NO2, and SO2) , minimum temperature, and relative humidity were also analyzed. It were fitted generalized additive Poisson regressions and used constrained distributed lag models adjusted for long time trend, weekdays, weather and holidays to assess the lagged effects of air pollutants on hospital admissions up to 20 days after exposure. RESULTS: Interquartile range increases in PM10 (26.21 mug/m³) and SO2 (10.73 mug/m³) were associated with 3.17% (95% CI: 2.09-4.25) increase in congestive heart failure and 0.89% (95% CI: 0.18-1.61) increase in total cardiovascular diseases at lag 0, respectively. Effects were higher among female group for most of the analyzed outcomes. Effects of air pollutants for different outcomes and gender groups were predominately acute and some "harvesting" were found. CONLUSIONS: The results show that cardiovascular diseases in São Paulo are strongly affected by air pollution.
  • Autonomia de pacientes em internação prolongada em hospital psiquiátrico Original Articles

    Wagner, Luciane Carniel; Fleck, Marcelo Pio de Almeida; Wagner, Mário; Dias, Míriam Thaís Guterres

    Resumo em Português:

    OBJETIVO: Avaliar a autonomia de uma população de pacientes com internação prolongada em um hospital psiquiátrico, identificar indivíduos com possibilidades de desinternação e avaliar o impacto de variáveis sociodemográficas, do funcionamento social e de incapacitações físicas sobre a autonomia. MÉTODOS: Foi avaliado o total de 584 indivíduos de um hospital psiquiátrico de Porto Alegre, RS, com internação prolongada (96% dois pacientes), entre julho e agosto de 2002. Foram utilizados os instrumentos, adaptados para a realidade brasileira: independent living skills survey (inventário de habilidades de vida independente), social behavioral schedule (escala de avaliação do comportamento social) e questionário de avaliação do grau de invalidez física. RESULTADOS: Os pacientes apresentaram grande comprometimento de sua autonomia, principalmente com relação à administração de dinheiro, ocupação, lazer, preparo de alimentos e transporte. A deterioração da autonomia esteve associada com o tempo de internação (OR=1,02), com severa incapacitação física (OR=1,54; p=0,01) e com o sexo masculino (OR=3,11; p<0,001). A estimativa do risco de ter um comprometimento moderado a grave da autonomia foi 23 vezes mais alta entre os indivíduos com severo prejuízo no funcionamento social (IC 95%: 10,67-49,24). CONCLUSÕES: A população avaliada apresentou sua autonomia seriamente deteriorada. Concluiu-se que no planejamento da desinternação prolongada desse tipo de paciente deve-se levar em conta seus déficits funcionais. A avaliação do funcionamento social e autonomia auxilia na identificação das necessidades e na determinação da viabilidade do processo de desinternação e reinserção social desses indivíduos.

    Resumo em Inglês:

    OBJECTIVE: To assess personal autonomy of long-stay psychiatric inpatients, to identify those patients who could be discharged and to evaluate the impact of sociodemographic variables, social functioning, and physical disabilities on their autonomy was also assessed. METHODS: A total of 584 long-stay individuals of a psychiatric hospital (96% of the hospital population) in Southern Brazil was assessed between July and August 2002. The following instruments, adapted to the Brazilian reality, were used: independent living skills survey, social behavioral schedule, and questionnaire for assessing physical disability. RESULTS: Patients showed severe impairment of their personal autonomy, especially concerning money management, work-related skills and leisure, food preparation, and use of transportation. Autonomy deterioration was associated with length of stay (OR=1.02), greater physical disability (OR=1.54; p=0.01), and male gender (OR=3.11; p<0.001). The risk estimate of autonomy deterioration was 23 times greater among those individuals with severe impairment of social functioning (95% CI: 10.67-49.24). CONCLUSIONS: In-patients studied showed serious impairment of autonomy. While planning these patients' discharge their deficits should be taken into consideration. Assessment of patients' ability to function and to be autonomous helps in identifying their needs for care and to evaluate their actual possibilities of social reinsertion.
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